segunda-feira, 7 de abril de 2008

Banheiro público do futuro


Quando a acolhida calorosa que a cidade de Nova York estende aos turistas enfim se estender para além das fronteiras do planeta e passar a incluir criaturas extraterrestres, os visitantes alienígenas com certeza se sentirão completamente em casa em um novo e sofisticado sanitário público instalado no Madison Square Park.

De fato, o novo banheiro público se assemelha não aos toaletes portáteis usados em eventos, mas sim à espécie de instalação que poderíamos imaginar como anexa ao camarote pessoal do capitão James T. Kirk na espaçonave Enterprise. Trata-se de uma viagem ao futuro, por apenas US$ 0,25 - e, quase incidentalmente, de um banheiro nada desagradável.

O sanitário público foi inaugurado na quinta-feira, e é o primeiro de 20 projetos semelhantes planejados para a cidade, depois de mais de 30 anos de falsos começos e frustrações. Ele fica na avenida Madison, logo ao norte da rua 23, e à primeira vista se assemelha a um ponto de ônibus coberto.

A arquitetura do local ostenta dois detalhes arquitetônicos notáveis, os dois no topo: uma pequena pirâmide de vidro, como que um modelo em escala da pirâmide do Louvre; e uma espécie de chaminé de metal anacrônica, que se assemelha mais à de um antigo barraco ou banheiro de quintal marcado por uma lua crescente entalhada à porta.

Mas ninguém procura o banheiro para observar esses detalhes. Quando a luz verde que indica que o banheiro está vago se acende, bastam US$ 0,25 - em moeda apenas, porque o sistema não aceita cédulas - a fim de iniciar a visita.

O que acontece logo em seguida provavelmente representará os mais longos e desconfortáveis 20 a 30 segundos na vida de uma pessoa. A porta se abre como se fosse um elevador, mas depois disso continua aberta, para atender às necessidades das pessoas que precisam de mais tempo para se deslocar. Enquanto isso, homens de terno caminham pela rua. É muito difícil passar despercebido se você está em um banheiro instalado em uma calçada de Nova York, e a porta está aberta. O usuário não pode fazer nada mais que ficar ali, em pé, e a demora certamente não será muito agradável para as pessoas que têm necessidade urgente de um banheiro.

Mas, por fim, a porta se fecha, e a primeira surpresa é o silêncio. As paredes são revestidas de maneira a amortecer os ruídos da rua, e o único barulho que resta é o zumbido discreto de um pequeno ventilador no teto. Seis lâmpadas de baixa potência e o efeito da pirâmide do topo, que funciona como clarabóia, iluminam de maneira neutra o espaço que o usuário poderá usar pelos 15 minutos seguintes - o prazo máximo de utilização. Esse banheiro público - que custa mais de US$ 100 mil - é muito espaçoso, com dimensões suficientes para acomodar cadeiras de rodas. Do centro do sanitário, a pessoa não consegue tocar as duas paredes laterais, se estender os braços.

O piso é de borracha e, em um toque surpreendente, parece muito úmido, mas não de maneira semelhante ao do banheiro masculino em uma estação rodoviária. O lugar tem um cheiro fresco, antisséptico.

Infelizmente, essas pequenas surpresas agradáveis são esquecidas imediatamente quando a pessoa olha pela primeira vez o vaso sanitário - um imponente receptáculo metálico instalado no canto. O vaso não fica protegido em uma cabine ou por meias-paredes separadas, e por isso parece exposto, como as instalações disponíveis em muitas prisões. O vaso também parece muito úmido, por motivos perfeitamente aceitáveis que explicarei abaixo, mas a imagem inicial termina por gerar uma impressão de calabouço, ou de uma cena em filmes como "Jogos Mortais".

O vaso não tem assento a baixar ou erguer; o usuário precisa se acomodar sobre sua ampla borda, protegida por capas de papel descartável que estão disponíveis em um aparelho logo ao lado. Quando a pessoa enfim decide sentar, é como se estivesse enfrentando uma prova de fé - a exemplo de se deixar cair para trás e ser amparado por uma colega de trabalho, em um daqueles seminários de motivação empresarial.

A sensação é de frio. Mas, quando se acomoda, o usuário descobre que o vaso é o posto de observação perfeito para descobrir os demais recursos do banheiro público.

Parece haver tantos botões quanto na ponte de comando da nave do capitão Kirk. Botões vermelhos, botões azuis, botões amarelos, pretos e verdes. Os botões vermelhos perto do vaso e da porta são para emergências. O amarelo é para pedir "assistência", o que supostamente deve indicar situação menos grave do que uma emergência mas ainda assim um caso que requeira ajuda externa. O botão azul é o da descarga.

O preto fornece papel higiênico. O usuário se familiariza muito rapidamente com o botão preto, porque os projetistas do sanitário decidiram que uma tira de 40 centímetros é a porção padrão de papel higiênico fornecida. E aqui cabe um aviso: o sanitário oferece um máximo de três porções de papel.

Outra dica: não perca tempo. Quando o prazo de uso está reduzido a apenas três minutos, uma luz amarela se acende, e ao final do período a porta se abre automaticamente.

A pia fica do lado oposto. A novidade é que o sistema de sabonete líquido não distribui sabonete em gotas, mas um jato de água quente ao qual o sabonete já vem misturado. Tudo é controlado por sensores de movimento, sem botões. O jato de ar quente para secagem parece fraco, especialmente se a luz amarela sobre a porta está piscando.

Caso a pessoa termine antes dos 15 minutos, o grande botão verde abre a porta, e o ruído da cidade retorna.

Quando o usuário sai, a porta volta a se fechar, mas a luz de ocupado permanece acesa. Ouve-se estranhos ruídos de água e de vapor vindos do interior - alguém entrou sem que eu visse? Não. É o sistema de limpeza automática, com um braço robotizado que lança desinfetante no vaso, e outros sistemas que fazem o mesmo na pia e no chão. Depois, ventiladores de ar quente são acionados, mas parecem lentos como o secador de mãos.

Isso tudo é informação do projetista; se uma pessoa tentar assistir ao processo pelo lado de dentro, a limpeza não acontece, porque sensores de peso instalados no piso é que controlam o processo. Depois de 90 segundos, a luz verde se acende. Quem é o próximo?

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Banheiro legal?? é só consultar a Mil Assentos
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